COM OS POBRES E MARGINALIZADOS
Quando
Jesus tinha cerca de 30 anos iniciou a sua vida pública (Lc 3,23),
anunciando o Reino de Deus. Jesus então deixou a sua pequena vila de
Nazaré e foi para Cafarnaum (Mt 4,13; Lc 4,31), que era uma cidade
maior e estava situada à beira do Mar da Galiléia. Cafarnaum era também
um corredor por onde passavam as caravanas comerciais, políticas,
culturais e militares que faziam a ligação entre o norte e o Egito.
Em
Cafarnaum Jesus teve contato com as pessoas que eram exploradas em seus
trabalhos, como os pescadores e os trabalhadores nos campos. Havia
também os publicanos ou cobradores de impostos (Mc 2,14; Mt 11,19;
21,31-32; Lc 15,1). Eram pessoas desempregadas e que não tendo outro
meio de ganhar a vida eram obrigadas ao trabalho ingrato de cobrar
impostos. Por isso eram mal vistos pela população e ao mesmo tempo pelo
sistema religioso que dizia que esta era uma profissão impura. Jesus
acolheu estas pessoas, conversou com elas, foi participar de refeições
em suas casas (Mc 2,15-17; Lc 19,6) e permitiu que alguns deles o
seguissem.
Jesus
encontrou também muitas pessoas doentes e endemoninhadas e lhe dedicou
uma atenção especial. Naquela época, a pessoa que não estava bem, isto
é, que não estava em paz (com Shalom) era doente ou possuída por
demônios. É importante esclarecer esta diferença. Quando se sabia a
causa do mal e também como curá-lo, dizia-se que era uma doença.
Exemplos de pessoas doentes: a sogra de Pedro com febre (Mc 1,19-31), o
homem da mão atrofiada (Mc 3,1-5), os cegos (Mc 8,22; 10,46-52), o
leproso (Mc 1,40), a mulher com ferida sangrando (Mc 5,25-34), etc.
Mas
quando a pessoa tinha o corpo perfeito e alguma coisa não funcionava
bem, se dizia que tinha um demônio, pois não se sabia a causa e nem
como curar a pessoa. O homem que estava na sinagoga (Mc 1,23-28) e
começou a falar bobagens tinha um demônio; o rapaz que vivia entre os
túmulos e que arrebentava correntes (Mc 5,1-20) era endemoninhado; o
menino epilético (Mc 9,14-29), que tinha o corpo normal, sofria ataques
e caia no chão tinha um demônio; o surdo mundo (Mc 7,31-37) tinha os
ouvidos bons, a língua perfeita, mas não falava, logo devia ter um
demônio.
Pessoas
doentes e endemoninhadas eram consideradas impuras e não podiam
participar da vida da comunidade. E as autoridades diziam que eram
malditas porque não conheciam a Lei (Jo 7,49). E se alguém tocasse
nelas também se tornava impuro. Jesus superou este sistema que excluía
e marginalizava as pessoas. Por isso, ele tocava nas pessoas (Mc 1,41;
8,23) ou deixava que o tocassem (Mc 3,10; 5,27; 6,56; etc.), curava
doentes e expulsava demônios (Mc 1, 34, 3,10; etc.). Algumas vezes foi
Jesus que foi ao seu encontro (Mc 1,29; 3,3; Jo 5,14; etc.) outras
vezes foram estas pessoas que ouviram falar de Jesus e vieram
procurá-lo (Mc 1,32. 37.40; 2,2; 5,6. 27; etc.).
Jesus também se compadecia diante da multidão faminta que o seguia: “Assim que ele desembarcou, viu uma grande multidão e ficou tomado de compaixão por eles, pois estavam como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34), por isso em duas ocasiões realizou a multiplicação dos pães para as multidões (Mc 6,30-44; 8,1-10).
Enquanto
o sistema religioso e político excluíam e marginalizavam, Jesus
integrava as pessoas, ia ao seu encontro, buscava compreender e ajudar
a resolver os seus problemas. Muitas vezes encontramos nos Evangelhos
textos que dizem que Jesus se compadecia, isto é, mostrava compaixão a
estas pessoas que esperavam um olhar misericordioso da parte de Deus
(Mc 3,5; 5,19; 8,2; 9,22; 10, 47, etc.). Todas estas pessoas que se
encontraram com Jesus, com certeza, não continuaram iguais. Sentiram a
alegria e a misericórdia do encontro com Alguém que se compadeceu de
sua situação e mudaram de vida!
Frei Ildo Perondi - ildo.perondi@pucpr.br
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