terça-feira, 25 de outubro de 2011

Encontros de Jesus: A Encarnação



E o Verbo se fez carne e habitou entre nós!” (Jo 1,14). Podemos fazer um exercício de imaginação. Imaginar Deus em seu Mistério, na sua Grandeza... Deus que habita os Céus e governa todo o Universo Cósmico. E em determinado momento da história as Três pessoas dialogando sobre a Criação e olhando para a Humanidade decidem que a segunda Pessoa da Trindade, o Filho, virá visitar a Terra e tornar-se um de nós.

É o Filho de Deus o escolhido que vem encontrar a sua Criação. Ele vem para o que era seu (Jo 1,11). Ele que já estava presente na Criação, pois “no princípio era o Verbo e o Verbo era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito” (Jo 1,1-2).

O “Sim” de Maria é importante. Naquela jovem, todos nós, homens e mulheres de boa vontade, estamos representados. Quando ela disse: “Eu sou a serva do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38), ela o disse em nome próprio, mas também em nome de toda humanidade. Nós o acolhemos e lhe dissemos: “Seja bem-vindo!

Ele vem habitar conosco, morar no meio de nós, assumindo toda a nossa realidade, menos o pecado. Jesus não escolhe o melhor, mas o mais frágil. Um lugar pequeno, o ventre de uma mãe. Nasce em meio aos perigos da vida: fora de casa, na noite fria, numa pobre gruta, em meio aos animais, entre o povo pobre e recebe a visita de pastores e de magos que chegam de longe. Sofre o perigo do Rei Herodes que já o quer matar.

Se Deus quis vir ao encontro da sua Criação, isto significa que a Criação é boa, é lugar e o chão onde Deus quis pisar, deixar suas pegadas.

Quando andei pela Terra Santa, várias vezes olhei para o chão procurando os rastros de Deus, os sinais dos pés de Jesus e pensava: “Aqui Deus passou; por aqui Deus se fez Humano; igual a nós, por isso a Terra é santa, é sagrada, é bela!

Jesus cresceu numa vila chamada Nazaré. Nazaré em hebraico significa “broto novo”. Aquele lugar desprezado, do qual se dizia: “De Nazaré pode vir alguma coisa de bom?” (Jo 1,46), foi onde brotou e cresceu a Vida. Foi ali que ele viveu 30 anos no anonimato. O que Jesus fez nestes 30 anos? Conviveu com o que era seu. Admirou e contemplou o mundo. É só imaginar o encontro de Jesus com a sua Criação, com o sol que nascia, com a chuva que caía, com o vento que soprava, com as flores do campo, com os frutos das árvores, com a colheita dos campos, com os pássaros do céu... Jesus passou 30 anos contemplando, se preparando e amando o mundo. Viveu na casa de José e Maria, trabalhou na carpintaria, ensinando que o trabalho tem valor e edifica o ser humano, viveu e freqüentou a vila de Nazaré para dizer que a comunidade é o lugar da vida e da convivência.

É na contemplação com a criação e com a história do ser humano que Jesus, 30 anos depois, começa a anunciar o Reino de Deus, fazendo o bem e dizendo que a humanidade é o lugar da vida: “Seja feita a tua vontade assim na terra como céu!” (Mt 6,10) e quase que a gritar que “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância!” (Jo 10,10).

É como se todo dia fosse Natal e todo dia o Verbo estivesse se encarnando. Acolhamos Jesus que vem. Imitemos suas pegadas, seus gestos, vendo a Criação como algo belo e bom. Contemplemos a história nossa como boa, pois é a história do nosso Deus, apesar das imperfeições que são a marca do nosso pecado. Que cada manhã possa ser o momento da acolhida, como cantou Alceu Valença: “Tu vens, Tu vens... Eu já escuto os teus sinais!


Frei Ildo Perondi é  Franciscano Capuchinho; biblista, com Mestrado em Teologia Bíblica pela Universidade Urbaniana de Roma e doutorando em Teologia Bíblica na PUC Rio. Professor de Sagradas Escrituras na PUCPR (Câmpus Londrina). Recentemente colaborou com a CNBB com o livro de Subsídios para o mês da Bíblia 2011 “Travessia: passo a passo, o caminho se faz”.

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