“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós!”
(Jo 1,14). Podemos fazer um exercício de imaginação. Imaginar Deus em
seu Mistério, na sua Grandeza... Deus que habita os Céus e governa todo o
Universo Cósmico. E em determinado momento da história as Três pessoas
dialogando sobre a Criação e olhando para a Humanidade decidem que a
segunda Pessoa da Trindade, o Filho, virá visitar a Terra e tornar-se um
de nós.
É
o Filho de Deus o escolhido que vem encontrar a sua Criação. Ele vem
para o que era seu (Jo 1,11). Ele que já estava presente na Criação,
pois “no princípio era o Verbo e
o Verbo era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por
meio dele e sem ele nada foi feito” (Jo 1,1-2).
O
“Sim” de Maria é importante. Naquela jovem, todos nós, homens e
mulheres de boa vontade, estamos representados. Quando ela disse: “Eu sou a serva do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38), ela o disse em nome próprio, mas também em nome de toda humanidade. Nós o acolhemos e lhe dissemos: “Seja bem-vindo!”
Ele
vem habitar conosco, morar no meio de nós, assumindo toda a nossa
realidade, menos o pecado. Jesus não escolhe o melhor, mas o mais
frágil. Um lugar pequeno, o ventre de uma mãe. Nasce em meio aos perigos
da vida: fora de casa, na noite fria, numa pobre gruta, em meio aos
animais, entre o povo pobre e recebe a visita de pastores e de magos que
chegam de longe. Sofre o perigo do Rei Herodes que já o quer matar.
Se
Deus quis vir ao encontro da sua Criação, isto significa que a Criação é
boa, é lugar e o chão onde Deus quis pisar, deixar suas pegadas.
Quando
andei pela Terra Santa, várias vezes olhei para o chão procurando os
rastros de Deus, os sinais dos pés de Jesus e pensava: “Aqui Deus passou; por aqui Deus se fez Humano; igual a nós, por isso a Terra é santa, é sagrada, é bela!”
Jesus cresceu numa vila chamada Nazaré. Nazaré em hebraico significa “broto novo”. Aquele lugar desprezado, do qual se dizia: “De Nazaré pode vir alguma coisa de bom?”
(Jo 1,46), foi onde brotou e cresceu a Vida. Foi ali que ele viveu 30
anos no anonimato. O que Jesus fez nestes 30 anos? Conviveu com o que
era seu. Admirou e contemplou o mundo. É só imaginar o encontro de Jesus
com a sua Criação, com o sol que nascia, com a chuva que caía, com o
vento que soprava, com as flores do campo, com os frutos das árvores,
com a colheita dos campos, com os pássaros do céu... Jesus passou 30
anos contemplando, se preparando e amando o mundo. Viveu na casa de José
e Maria, trabalhou na carpintaria, ensinando que o trabalho tem valor e
edifica o ser humano, viveu e freqüentou a vila de Nazaré para dizer
que a comunidade é o lugar da vida e da convivência.
É
na contemplação com a criação e com a história do ser humano que Jesus,
30 anos depois, começa a anunciar o Reino de Deus, fazendo o bem e
dizendo que a humanidade é o lugar da vida: “Seja feita a tua vontade assim na terra como céu!” (Mt 6,10) e quase que a gritar que “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância!” (Jo 10,10).
É
como se todo dia fosse Natal e todo dia o Verbo estivesse se
encarnando. Acolhamos Jesus que vem. Imitemos suas pegadas, seus gestos,
vendo a Criação como algo belo e bom. Contemplemos a história nossa
como boa, pois é a história do nosso Deus, apesar das imperfeições que
são a marca do nosso pecado. Que cada manhã possa ser o momento da
acolhida, como cantou Alceu Valença: “Tu vens, Tu vens... Eu já escuto os teus sinais!”
Frei Ildo Perondi é Franciscano
Capuchinho; biblista, com Mestrado em Teologia Bíblica pela
Universidade Urbaniana de Roma e doutorando em Teologia Bíblica na PUC
Rio. Professor de Sagradas Escrituras na PUCPR (Câmpus Londrina).
Recentemente colaborou com a CNBB com o livro de Subsídios para o mês da
Bíblia 2011 “Travessia: passo a passo, o caminho se faz”.